E a minha alma alegra-se com seu sorriso, um sorriso amplo e humano, como o aplauso de uma multidão...{Fernando Pessoa}

Se refletem no meu Espelho...

Soube...


Quando nasci, soube do vento que leva tristeza pra longe e traz o
Amor pra mais perto, e aceitei o destino.
Soube também que maré nem sempre respeita castelo de areia que
nosso tempo dedica, e aceitei o inevitável.
Quando nasci, soube das mãos que cuidam e que ferem,
que acolhem ou prendem, e entendi as escolhas.
Soube dos caminhos e dos meus pés a me
levarem pra qualquer lugar, aprendi liberdade.
Soube da boca que beija e que engana,
que cura e que rasga, que salva e que afasta,
que ama e maldiz, e entendi o poder que me cabe.
Quando ao sofrer, soube da lágrima a gritar sua
mágoa e a pregar meu alívio: entendi os avessos.
Soube dos encontros que dóem mas alimentam,
das doçuras que nos distraem, da imensidão que
não contenta, dos cadinhos que satisfazem, e entendi intensidade.
Quando as sementes não vingaram, o fundo dos poços todos secaram e
as ruas todas-sem-saída, aprendi o recomeço.
Quando o fogo me cercou, a palavra me cortou, o plano se perdeu
e o erro se fez meu, ensaiei serenidade.
Quando busquei sorrisos e quis repeti-los como
canção que se gosta, entendi o prazer.
Quando caminhei com um pé nas nuvens
e outro no chão, aprendi a sonhar.
Quando nasci, passei a saber da morte.
Quando morrer, aí então saberei da vida;
nesta ciranda de amores e cores,
espelhos e reflexos, jardins e degraus.
Sou reticências, para que todas as coisas
venham a mim e em mim continuem...

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