Amo-te tanto que não sei te amar,
amo tanto o teu corpo e o que em ti não é o teu corpo que
não compreendo porque nos perdemos se a cada passo te encontro,
se sempre ao beijar-te beijei mais do que a carne de que és feita,
se o nosso casamento definhou de mocidade como outros de velhice,
se depois de ti a minha solidão incha do teu cheiro, do entusiasmo dos teus
projectos e do redondo das tuas nádegas,
se sufoco da ternura de que não consigo falar,
aqui neste momento, amor, me despeço e te chamo sabendo que não virás
e desejando que venhas do mesmo modo que,
como diz Molero, um cego espera os olhos que encomendou pelo correio
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